ESPIRITISMO : DEPOIMENTOS DE SUICIDAS
Camilo Castelo Branco, in Memórias de um Suicida (Ivone A. Pereira)
"(...) O vale dos leprosos, lugar repulsivo da antiga Jerusalém de tantas emocionantes tradições, e que no orbe terráqueo evoca o último grau da abjecção e do sofrimento humano, seria consolador estágio de repouso comparado ao local que tento descrever. Pelo menos, ali existiria solidariedade entre os renegados! Os de sexo diferente chegavam mesmo a amar-se! Adoptavam-se em boas amizades, irmanando-se no seio da dor para suavizá-la! Criavam a sua sociedade, divertiam-se, prestavam-se favores, dormiam e sonhavam que eram felizes!
Mas no presídio de que vos quero dar contas nada disso era possível, porque as lágrimas que se choravam ali eram ardentes demais para se permitirem outras atenções que não fossem as derivadas da sua própria intensidade!
No vale dos leprosos havia a magnitude compensadora do Sol para retemperar os corações! Existia o ar fresco das madrugadas com seus orvalhos regeneradores! Poderia o precito ali detido contemplar uma faixa do céu azul! ... Seguir, com o olhar enternecido, bandos de andorinhas ou de pombos que passassem em revoada! (...)
Mas na caverna onde padeci o martírio que me surpreendeu além do túmulo, nada disso havia!
Aqui, era a dor que nada consola, a desgraça que nenhum favor ameniza, a tragédia que ideia alguma tranquilizadora vem orvalhar de esperança! Não há céu, não há luz, não há sol, não há perfume, não há tréguas!"
Antero de Quental
"Ah! Que se soubessem por que preço pagamos a libertação pelo suicídio, ninguém se suicidaria!
Os maiores martírios da Terra são doces consolações em comparação com os mais suaves sofrimentos de um suicida!
E é porque Deus castigue? Não, é porque tem de ser.
É da lei. É fatal como é da lei girar a Terra no seu eixo, e as estrelas na sua órbita.
Esse sofrimento não é cego e igual. É harmónico, equitativo, justo, como é justo, equitativo e harmónico tudo o que obedece à lei imutável do Universo, que Deus firmou com a sua vontade e perfeição.
E nós, aí na Terra, a querermos apreciar com a nossa inteligência microscópica a grandeza do infinito!
É querermos iluminar o mundo na treva de uma noite, com a luz de uma lamparina!
Avalias tu, ou alguém, o que é o infinito?
Se avaliares, terás apreciado Deus e a sua obra!"
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