A Transição e a Mediunidade
No Prefácio do livro Lírios de Esperança, de Ermance Dufaux, psicografado por Wanderley Oliveira, o espírito
Maria Modesto Cravo, diz:
Nos bastidores dos dramas sociais visíveis aos olhares humanos, trava-se uma batalha decisiva do bem contra o mal. Tirania e indiferença tomam conotações incomparáveis, estabelecendo uma hecatombe moral sem precedentes. Em meio dessa faina desairosa, os verdadeiros discípulos de Jesus são convocados à formação de trincheiras resistentes de amor incondicional, em favor da paz e do bem.
Não teremos regeneração sem retaguarda e defesa. Se existem os missionários do progresso cuja função é criar o bem de todos, é mister entender que, mesmo eles, somente terão êxito sob regime de amparo e motivação. Enorme contingente de criaturas com tarefas definidas para o avanço social, em todos os campos das atividades humanas, tomba em armadilhas de perdição quando fustigadas pelos verdugos do mal que buscam, de todas as formas, reter o crescimento do planeta.
Muita ingenuidade acreditar que os inesquecíveis baluartes da ciência e da cultura, da política e da religião, agiram à mercê de cuidados espirituais especiais em suas missões. Quanta ordem e disciplina preenchem os caminhos das almas que mourejam de mente afinada ao progresso coletivo! Quanta atenção e interesse fraterno despertam os que abrem seus corações ao amor sem fronteiras! Como imaginar que Albert Schweitzer e Gandhi realizaram a messe de bênçãos sem enormes medidas de segurança do Mais Alto?! Einstein e Freud foram assessorados ininterruptamente. Kardec recebeu de Jesus a autorização para medidas de proteção jamais utilizadas a nenhum missionário na face da Terra. O bem, para ser espalhado, não prescinde de fileiras de defesa eficientes. Vivemos e respiramos sob os auspícios de uma rede de reflexos. Quaisquer desordens, assim como uma oração, são capazes de alterar nosso psiquismo. Luzes que se acendem fortalecem toda a rede.
Quaisquer lampejos de paz atraem esfomeada multidão de almas atormentadas, sob o jugo de tiranos dotados de uma longa trajetória de inteligência e perspicácia na perversidade. Essas almas escravizadas pela maldade procuram agir como astutos vigilantes para arruinar todos os focos de luz sobre a Terra. Essa a razão dos golpes sucessivos nas “atividades-amor” do espiritismo cristão.
Apesar da luz dos conhecimentos espíritas, o tesouro espiritual das informações não tem sido suficiente para despertar muitos adeptos a uma nova ordem de atitudes e idéias face aos desafios da ordem presente…
O intercâmbio interdimensional nesse contexto, que poderia servir de fortaleza aos mais auspiciosos projetos de liberdade e ascensão, em inumeráveis casos, não passa de enxada afiada em plena semeadura à espera do lavrador que a deseje manejar a contento.
A história é a mãe da cultura, e a cultura é o conjunto das noções que os homens aceitam como referências para se conduzirem em seus grupos. A cultura espírita, em torno das questões mediúnicas, responde por uma mentalidade que inspira práticas e posturas nem sempre ajustadas aos reclames do tempo espiritual da transição. Transição é o tempo mental da renovação, a hora do recomeço e da reavaliação. Nesse cenário, os aprendizes da mediunidade serão aferidos com rigor. Muita coragem e sacrifício serão exigidos de quem realmente anseia servir sob novos e mais apropriados regimes, nesse tempo de contínuas mudanças.
Indispensável romper conceitos, vencer barreiras intelectuais e ter a ousadia para esculpir os novos modelos de relação intermundos, retirando a mediunidade do dogmatismo que aprisiona o raciocínio humano, e da tristeza que estorcega o coração como se os médiuns cumprissem severa sanção.
Sem exageros, vivemos um tempo em que as comportas mediúnicas, a despeito de estarem em plena movimentação, não permitem que a linfa cristalina da imortalidade goteje com a necessária abundância por suas frestas, para dessedentar o homem aprisionado ao deserto das paixões materiais…
Vivemos uma nova proibição mosaica como a do Velho Testamento! Proibição essa mais nociva que a dos velhos textos hebreus, porque não se faz por decretos formais, passíveis de serem revogados, mas sob a coação impiedosa do preconceito sutil, das convenções estéreis e de sofismas aprisionantes – hábitos de difícil extirpação da mente humana.
Indispensável que haja um “Novo Tabor” em que Jesus, ao lado de Moisés e Elias, revogue a proibição da comunicabilidade dos espíritos com os homens.
O espírito Charles Rosma e as irmãs Fox protagonizaram o “Tabor da Era do Espírito”. O drama de Rosma, assassinado há décadas na residência dos Fox, é de bilhões de almas na humanidade à espera de quem lhe possa estudar a dor e amparar os caminhos, presos a grilhões de maldade e infortúnio, ou em porões fétidos de amargura e dor. Só haverá renovação social, quando houver limpeza psicosférica. É hora de abertura, desenvolvimento de parâmetros experimentais sem perder o caráter moral e educativo, para o qual as atuais práticas de intercâmbio se destinam. Nesse objetivo se firma a autora espiritual Ermance Dufaux em continuidade à série Atitudes de Amor, sob os auspícios do venerável baluarte do amor fraternal, Adolpho Bezerra de Menezes.
Um clamor ao serviço abnegado e consciente na regeneração da humanidade em ambas as esferas de vida, formação de frentes corajosas de amor, tarefas maiores de libertação e asseio psíquico da Terra. Eis os desafios delegados pelo Cristo a todos que O amam. Desafios que, em muitas oportunidades, são substituídos pela atitude impensada da acomodação…
Enquanto inúmeros aprendizes da mediunidade optam pelo fascínio da mordomia para servirem, preferindo o serviço mediúnico distante do sacrifício e nos braços do convencionalismo, Jesus conta com os destemidos, dispostos à segunda milha das ações que ultrapassam o comodismo inspirado na rigidez da pureza filosófica.
A atitude de amor sem lindes de Eurípides Barsanulfo deve ser exemplo inspirador para nossas ações no legítimo bem. Somente nesse clima de testemunho sacrificial, encontraremos condições de plantio das sementes do mundo novo que sonhamos para o futuro da humanidade.
Ao enfocar a história de líderes cristãos tombados no remorso sob o açoite da negligência com a qual se conduziram durante a vida física, Ermance Dufaux abdica da visão derrotista de falência e queda irremediável, para alertar o homem terreno sobre quanto lhe compete realizar no clima do sacrifício e da renúncia em favor de si mesmo, quando bafejado pelas benesses da Doutrina Espírita. Seu enfoque é compassivo e pródigo de esperança ao destacar a extensão da tolerância ativa das almas superiores para com nossas necessidades de aperfeiçoamento. Ao mesmo tempo, a autora convoca-nos aos mais árduos imperativos peculiares ao tempo da transição. Digno de nota, igualmente, é o seu esforço sacrificial em manter fidelidade ao pensamento e as características de seus personagens. Tarefa essa cumprida a contento segundo avaliação de nossa equipe espiritual.
O sentimento da imortalidade precisa ser construído na intimidade do homem reencarnado. É instrução a serviço da espiritualização. Essa instrução, no entanto, carece de aplicação prática que retrate quanto possível a realidade imortal. Daí o imperativo de vivências mediúnicas incomuns, para além dos rígidos padrões de segurança e utilidade consagrados pela comunidade doutrinária.
Um desafio de investigação e fé espera os servidores da mediunidade em tempos de transição. Nesses textos encontraremos uma preciosa reflexão a esse mister. Investigação para dentro e para fora de si mesmo.
Conscientes de que evolução é processo íntimo e gradativo, não temos dúvida que certos ensinos nem sempre acompanham o tempo psicológico e espiritual de alguns aprendizes. Estou convicta, porém, de que, nessas linhas despretensiosas, existem motivos de sobra para endossá-los como convite inadiável ao tempo de maioridade das idéias espíritas, independente de aceitação e acolhimento por parte de quantos se consideram os intelectuais do Espiritismo.
Perante a iniciativa dos discípulos sinceros ao mostrarem a estrutura do templo para Jesus, Ele declarou: “Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada.” O templo material simbolizava a concepção encharcada de materialismo por parte dos que ansiavam seguir o Cristo.
Não descreiam dessa assertiva! Os conceitos e as práticas se renovam celeremente. Descerra-se um horizonte novo e belo, educativo e libertador ante os olhos de quantos tenham olhos de ver e ouvidos de ouvir…
Da amante do bem e servidora do Cristo,
Maria Modesto Cravo* – 01 de Janeiro de 2005.
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